O Jornal Estado de São Paulo, há algum tempo atrás, trouxe a foto de um carro, circulando sem os números nas placas, e com um imenso adesivo "Sob a permissão de Deus".
É um claro e notório recado do pensamento de seu proprietário para a sociedade, sobre o que ele pensa do Estado atual. Creio que não é exagero concluir que esse cidadão não acredita mais na autoridade do Estado, como organizador e gestor da sociedade. É uma forma pacífica e ilegal de protesto contra a decadência que estamos vivendo. Ele encontrou uma maneira de ignorar nossas leis, nossas instituições e o poder do Estado.
É uma forma de se manifestar "anarquista", porém com um viés espiritual, colocando sua crença e confiança apenas em Deus
Pode ser que tal cidadão seja um cristão, ou não, mas ele manifesta de forma simples e silenciosa seu protesto contra o "Estado", gerido pelos homens. E fez isso se dando o direito de suplantar as leis e a ordem natural das coisas em nossa sociedade.
Essa imagem, tão bem refletida por uma simples foto, expressa atualmente quase uma ideologia, ou uma corrente de pensamento. São inúmeros os casos de pessoas, cidadãos comuns e até gente “bem graúda”, que se tornou "crente em Deus e descrente no Estado". Temos hoje um novo fenômeno de estilo de vida, onde a pessoa acha que, por estar inserida em uma sociedade desigual, injusta e falida, ela tem o direito de sublimar as leis e andar apenas de acordo com sua consciência.
Vemos esse pensamento em simples cidadãos desempregados e desiludidos, em vítimas de tragédias e abusos de autoridades e do Estado, e até em líderes que acreditam viver em paz com suas consciências, enquanto desobedecem nossas leis, nossas regras e convenções. Vivemos hoje o apogeu da "crença em Deus, mas descrença nos homens e, conseqüentemente no Estado”. E tudo isso lhes autoriza a usar o código de ética de sua própria consciência.
Não é preciso dizer que, embora nosso Estado esteja decadente e corrupto, cabe aos cidadãos lutarem para preservá-lo e melhorá-lo, especialmente aqueles que acreditam em Deus. Se até esses, a quem Jesus chamou de "Sal da Terra e Luz do Mundo", se tornarem deformadores em nossa sociedade, de onde poderemos tirar esperança?
Deus não nos autoriza, em nenhum lugar, a usarmos a fé e seu nome para criarmos um "Estado paralelo ", segundo apenas com nossa consciência. Aliás, Jesus disse "Dai a Cezar o que é de Cezar, e a Deus, o que é de Deus". Ou seja, ainda que nosso Estado seja injusto e desigual, cheio de contradições, é nossa responsabilidade aperfeiçoá-lo e lutarmos para termos um mundo melhor, enquanto aguardamos a eternidade, onde uma cidade perfeita nos espera.
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